quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

# Até onde vai a nossa solidariedade... #

Ela tem umas compras a fazer e decide ir ao hipermercado.
Pega num cesto pois as compras não serão muitas, e segue pelos enormes corredores em direcção ao pretendido pois detesta perder muito tempo nestes estabelecimentos.
Está no corredor a analisar preços de várias marcas, a oferta é imensa para o mesmo produto.
Faz contas à vida pois a situação actual não deixa que brinquemos com a carteira.
Dirige-se a ela um vulto, ele fala baixo num tom de vergonha.
Ela olha para ele e vê vergonha na sua cara.
Ele fala para ela como se as palavras lhe custassem notas a sair da boca.
Não lhe olha na cara.
Algumas palavras ela não consegue entender pois o volume das mesmas é tão baixo que ela é obrigada a aproximar-se o máximo possível para o poder ouvir.
Ele carrega nas suas mãos uma embalagem de carne, uma garrafa de azeite, e um pacote de massa.
De todas as palavras proferidas, ela apenas reteve isto:
"...Não tenho comida para dar aos meus filhos. Não quero dinheiro. Só peço que me ajude a levar estas coisas aos meus filhos."
Ela fica imóvel.
Ele fica em frente dela de cabeça baixa.
Ela que contava os trocos e fazia contas à vida, vê ali diante dos seus olhos alguém mil vezes pior.
Mas ela não pode.
Ela não consegue ajudar.
Ela quer ajudar e não pode.
Ela quer dar a comida toda e mais alguma àquele Homem e não pode!
Ela quer ajudar e está de mãos atadas.
Como é que se consegue dizer não a tamanha situação?!
Com que cara se confronta aquele Homem que apenas o que quer é comida para os filhos?
Não é problema dela.
Pode até não ser, mas a partir do momento em que ele se dirige a ela, passou a ser um problema dela.
Ela sabe que há fome.
Ela sabe que há miséria.
Ela sabe isso tudo.
Mas uma coisa é saber, e outra é ser confrontada com ela.
É algo esmagadoramente duro.
Ela quer falar para ele, mas parece que as palavras não querem sair da boca.
Ela quer dizer que lhe dá a comida, mas não pode.
Ela diz:
"Eu queria muito ajudá-lo, mas infelizmente não consigo. Eu acredito que haja alguém aqui debaixo deste tecto que o vá ajudar. Sei que não são as palavras que quer ouvir, mas espero que tenha um Santo Natal na medida do possível."
Ele Agradeceu, e ela virou costas e chorou.
Chorou porque não pode ajudar.
Chorou porque sentiu-se impotente.
Chorou porque lhe apeteceu largar tudo aquilo que precisava e que tinha no cesto, e levar a comida ao senhor.
Era isso que ela devia ter feito.
Será?!
Era mesmo?!
Seria essa a sua responsabilidade enquanto cidadã?!
Seria essa a sua responsabilidade enquanto ser humano!?
Podemos nós ajudar toda a gente que precisa?!
Teremos nós essa capacidade?!

Ah e mais... Como pode um Homem valer Milhões e outros não valerem nada?!

Tanta pergunta e tanta resposta por dar.

Até onde vai a nossa Humaninadade ...

4 comentários:

  1. Como te compreendo! Tanto queremos ajudar, que nos chegamos a sentir culpados de não o conseguir. E como o coração dói nessa altura!

    Que sociedade é esta que vivemos uma suposta crise mas em que os 10 mais ricos do país aumentam as suas fortunas (alguns quase que as duplicaram)?

    Nestas alturas, vou buscar força aos sonhos e ideais. Sei que sou um sonhador, mas não sou o único!

    "Imagine" (John Lennon)

    Imagine there's no heaven
    It's easy if you try
    No hell below us
    Above us only sky
    Imagine all the people
    Living for today...

    Imagine there's no countries
    It isn't hard to do
    Nothing to kill or die for
    And no religion too
    Imagine all the people
    Living life in peace...

    You may say I'm a dreamer
    But I'm not the only one
    I hope someday you'll join us
    And the world will be as one

    Imagine no possessions
    I wonder if you can
    No need for greed or hunger
    A brotherhood of man
    Imagine all the people
    Sharing all the world...

    You may say I'm a dreamer
    But I'm not the only one
    I hope someday you'll join us
    And the world will live as one

    Beijinhos, Marta

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    1. Senti-me culpada de uma culpa que não é a minha. E isso doeu como nunca imaginei!!
      Tenho a impressão que foi a primeira vez na minha vida que fui confrontada ali nua e crua com esta situação. E doeu!
      Era bom que um dia isto
      " ... Imagine no possessions
      I wonder if you can
      No need for greed or hunger
      A brotherhood of man
      Imagine all the people
      Sharing all the world..."

      acontece-se!!!

      Vamos sonhando que um dia isso seja possível.
      Beijinhos

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  2. Como te compreendo....nunca passei por uma "confrontação" assim, nua e crua, e sinceramente espero não passar. As únicas situações similares, é quando na rua alguém se dirige a mim e pede dinheiro para comer...normalmente não dou dinheiro, vou ao primeiro café e compro-lhe alguma coisa para comer e beber. Felizmente ainda posso ajudar alguns e faço-o com gosto. Mas infelizmente é impossível ajudar toda a gente (e cada vez são mais), e mesmo sendo injusto, temos que tomar decisões, quem e como ajudar - isto para quem ainda pode, como felizmente é o meu caso.
    Beijinhos e vamos sonhando

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    1. Sempre que possamos ajudar e o fazemos parece que até ficamos mais leves por dentro... Senti-mo-nos melhores seres humanos. Mas infelizmente ajudar todos aqueles que precisam é impossível.

      Beijinhos e ainda bem que ainda podemos sonhar :)

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